Cleia Junqueira, coordenadora do Centro de Preparação do Café do Sindicafé-SP e diretora da Associação Brasileira de Café e Barista (ACBB), esteve na semana passada em Belo Horizonte ministrando cursos organizados pelo CCQ – Círculo do Café de Qualidade da ABIC, que aconteceram na sede do Sindicafé-MG. Durante sua estadia, conversamos um pouco sobre o mercado belorizontino para cafés e o trabalho do profissional barista na capital. Confira a seguir a entrevista concedida por ela ao CB:
CB: Qual o perfil das pessoas que procuraram os cursos oferecidos pelo Sindicafé-MG? Esse perfil é diferente do que você viu na última vez que realizou cursos em BH?
CLEIA: A maioria dos que procuram os cursos de barista do Sindicafé são pessoas que já trabalham com café, que estão interessados principalmente em aperfeiçoamento. Há também pessoas que pretendem abrir cafeterias, funcionários do próprio Sindicafé e outros que pretendem dar cursos no futuro. Mas é interessante que não houve nenhum barista que atua diretamente em cafeteria, o que repete a realidade que eu observo em São Paulo. Isso mudou em BH de um ano pra cá. É muito positiva a participação de futuros proprietários de cafeterias, porque eles se tornam multiplicadores das boas práticas no barismo.
CB: Durante essa semana você retornou a cafeterias que já conhecia e conheceu alguns dos novos empreendimentos inaugurados na capital mineira. O que mudou no mercado de cafés em BH, comparado à sua última visita em 2009?
CLEIA: De um ano pra cá, eu notei uma mudança significativa e positiva, com relação à oferta de cafés de qualidade e o investimento das cafeterias em profissionais capacitados. Também me surpreendeu que algumas das cafeterias que visitei estão trabalhando com microlotes, que é a tendência na atualidade. O que se percebe é que os empreendedores antigos e os que estão começando agora estão por dentro do que há de mais novo no mercado.
O que falta, entretanto, no mercado belorizontino, são representações de máquinas de café espresso, para que haja pronta-entrega e manutenção dos equipamentos em funcionamento nas cafeterias. São poucas as marcas que possuem assistência técnica na cidade. Eu sei que não é barato fornecer essa estrutura, mas acredito que exista a possibilidade de parcerias que ainda não estão sendo aproveitadas pelas empresas de maquinas.
CB: Especula-se que BH seja uma das melhores cidades brasileiras para investir em gastronomia e entretenimento. Você concorda com isso, em se tratando especificamente de investimento em café?
Cleia: Claro, ainda mais se considerarmos que BH é uma das capitais que receberá jogos da Copa do Mundo em 2014. Mas de nada adianta que as pessoas abram estabelecimentos maravilhosos, com cafés excelentes, se não há acesso a equipamentos de qualidade. E mesmo que haja esse equipamento de qualidade, também não adianta se não houver manutenção imediata. Já a capacitação de mão-de-obra está avançando, a gente nota que todos estão correndo atrás da qualidade.
CB: Ainda com relação à qualidade, o que instituições como o Sindicafé, a ABIC e a ACBB têem feito para proporcionar o acesso do barista à formação e informação?
Cleia: O Sindicafé já oferece cursos há um bom tempo, é o mais antigo do Brasil nisso. O CPC (Centro de Preparação do Café) tem feito esse trabalho, como o que fizemos essa semana, de capacitar a mão-de-obra e retornar periodicamente nas capitais brasileiras para isso. Uma grande dificuldade que encontramos é a infra-estrutura, já que não podemos priorizar nenhum estabelecimento, temos que realizar os cursos em locais neutros como o Sindicafé. Mas a oferta de equipamentos, como mencionei, ainda é fraca em BH. A ABIC também tem realizado ações nesse sentido, mas também esbarra na dificuldade da infra-estrutura. Já a ACBB, enquanto entidade, oferece a certificação de baristas, e pretende a partir de novembro desse ano oferecer periodicamente as provas de certificação, pelo menos no nivel básico, que entendemos ser o mínimo necessário para exercer a profissão.
Agora também está prestes a ser concluída a lei que propõe a regulamentação do profissional barista, e a ACBB colocou suas proposições a essa lei, como atrelar o direito de exercer a profissão à certificação. Outra coisa que pretendemos fazer é trazer, duas vezes ao ano, alguém do exterior para oferecer cursos gratuitos aos associados.
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