Preparando café, cada dia.

O Clube Barista tem o objetivo de difundir as boas práticas do barismo e o entusiasmo em cada xícara.

O Blog é um espaço aberto para a discussão sobre café e barismo entre profissionais e apreciadores. Comentários, idéias e ações são muito bem-vindos! Quem quiser, agarre sua xícara e sirva-se à vontade.

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Helga Andrade, Barista.

Sobre doçura e outros sabores.

Desde que me lembro, fui sempre da opinião de que doçura demais enjoa. Eu costumo, em dias meio desequilibrados, ficar alternando pequenos bocados de doce e salgado, pra suprir minha gula sensorial.


Em matéria de café, isso me parece ainda mais evidente. Já escutei e li, de profissionais e fontes dignas de muito respeito, que a doçura é um atributo essencial a um bom café. Eu concordo, admito, mas não foi muito surpreendente quando, ao provar pela primeira vez um espresso preparado com um café de uma região produtora premiadíssima na safra de 2009/10, o que eu senti foi certo cansaço no paladar.

Esse café era extremamente doce e encorpado, mas não tinha nenhuma acidez. Certamente que muito desse desequilíbrio foi resultado de uma extração inadequada, já que eu tomei desse mesmo café em outras ocasiões e, apesar de não ser brilhante, a acidez era bem perceptível. Mas a questão é que isso me fez pensar sobre como acidez era até muito mais fundamental que a doçura.



Isso, claro, partindo de um ponto de vista pessoal. Em se tratando de preferências gerais, noto que o resultado mais bem-sucedido é uma combinação equilibrada de doçura, acidez, corpo e retrogosto, aromas menos complexos e sabores mais uniformes. Isso é, inclusive, um padrão que pauta as escolhas de blends da maioria das cafeterias e outros espaços que prezam pela qualidade do café servido.

Indo na contramão, as casas mais especializadas (e corajosas, no caso do mercado belorizontino ainda de paladar tímido) optam por oferecer, junto ao blend principal, alguns cafés sazonais. São cafés de origem única, selecionados entre os mais famosos do momento, campeões de concursos ou microlotes descobertos em fazendas inesperadas.

E o objetivo não pode ser outro que não a diversidade. Os cafés de origem única – a não ser quando espécimes realmente raros presenteados pelo equilíbrio naturalmente – serão talvez cafés sem perfeição nenhuma: seja por uma acidez elevada demais que precisa ser balanceada na extração, por um retrogosto persistente demais que precisa ser suavizado, por um corpo ou doçura suaves demais que não se permita nem chamar de elegante.

Mas é na falta de perfeição que eu encontro o entusiasmo de uma xícara. O que me encanta num café não é exatamente a sinfonia gerada pela combinação final. É, muito mais, a decomposição de cada instrumento, cada característica que perscrutada pode me levar a um porquê dela.

Podem me dizer louca, exagerada, carnal ou desnecessária. Mas em se tratando de prazer, eu não estou satisfeita sem chegar às mãos, ao clima, ao terreiro, ao solo, à rocha.


5 comentários:

  1. concordo com vc em gênero, número e grau!Um bom café se mede não só pela soma de suas qualidades, mas, principalmente, pelo prazer de desvendar cada uma delas individualmente.

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  2. Adorei! Principalmente esta idéia: "Mas em se tratando de prazer, eu não estou satisfeita sem chegar às mãos, ao clima, ao terreiro, ao solo, à rocha." Pra mim que não sou desta área, mas do turismo, me passou a idéia da essência do café, à tudo que ele é e representa! Lindo texto!

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  3. Como vai Helga?
    Estou impressionado com o texto que acabo de ler.
    Voce demonstra conhecimento no assunto, consegue prender a atenção do leitor num texto tao bem escrito.Palavras bem colocadas, com um vocabulario de altissimo nivel. Ja acompanho seu blog mas e a primeira vez que manifesto.
    Sucesso. Parabens!
    Sidney - Sao Paulo

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  4. Muito bacana sua postagem. Apesar ainda da minha pouca experiência sobre o universo dos cafés, me identifico bastante com seus textos desde que passei a acompanhar o blog. Talvez seja porque temos o turismo e o barismo como algo comum entre nós. Mas de qualquer forma são postagens brilhantes, dignas de alguém que com toda certeza conhece e ama o que faz...

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  5. Como Barista, minha busca é pela qualidade da bebida. Como turismóloga, minha busca é pela qualidade da experiência.

    O café deve ser sinônimo de prazer, de troca, de tradição e de revolução.

    Agradeço por enriquecerem nossa conversa, moçada!
    Grande abraço.

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goles de café

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