Preparando café, cada dia.

O Clube Barista tem o objetivo de difundir as boas práticas do barismo e o entusiasmo em cada xícara.

O Blog é um espaço aberto para a discussão sobre café e barismo entre profissionais e apreciadores. Comentários, idéias e ações são muito bem-vindos! Quem quiser, agarre sua xícara e sirva-se à vontade.

Participe, compatilhe!

Helga Andrade, Barista.

Nunca sonhei ser barista.

Não, eu nem sempre gostei de café. Nada contra os baristas que sempre foram apaixonados por café, bebiam pingado desde criança e roubavam frutinhas de café pra chupar na fazenda. Mas essa história não é minha.
Eu não nasci debaixo de um pé de café e as minhas melhores recordações são de bacias de jabuticaba comprada na feira, mangas, mexericas e limões-capeta catados no quintal da minha avó. Na minha infância em Divinópolis, café era sinônimo de refeição. E café (a bebida) era uma coisa forte, preta, quente, amarga e doce (?!), coisa de adulto.

Eu me mudei para Belo Horizonte e, na faculdade, meus colegas costumavam se sentar na cantina no intervalo das aulas, tomar um café e fumar um cigarro. O café era o mesmo que eu NÃO tomava antigamente: forte, preto, quente e amargo. Mas eu às vezes bebericava um pouco. Era mais para compartilhar o momento, o cachimbo da paz, calorzinho num dia frio. Ou pra espantar o sono. O açúcar a gente podia servir à vontade no balcão da cantina. Mas eu preferia o café puro.

Quando eu passei uma temporada em São Paulo, fazendo um estágio de férias, fiquei hospedada em uma pensão para moças. A Dona Léa, proprietária da pensão, era uma octogenária professora de inglês, fonoaudióloga e com muita história para contar das suas viagens ao exterior. Ela tomava um café espresso por dia na lanchonete do supermercado que ficava na rua ao lado.

Ela me contou que o sonho dela era ser Barista. Que, se ainda fosse moça, largava tudo e ia viver de estudar e trabalhar com café. Que essa era a profissão mais charmosa, mais elegante, mais prazerosa que alguém poderia ter. Eu? Nunca tinha ouvido falar.



Um dia ela me levou numa cafeteria. Tomei meu primeiro espresso (que eu me lembre). A Dona Léa me disse que ali eles serviam o melhor café da cidade. Aquele café era concentrado, encorpado, mas não amargava.

Quando voltei para BH, passei a freqüentar algumas cafeterias com um grupo de amigos. Nós nos chamávamos de “a intrépida trupe”, passávamos nosso tempo livre e gastávamos nosso dinheiro que sobrava tomando café e comendo em lugares bacanas. Eu descobri nessa época o prazer em identificar aromas e sabores. Justo eu, que quando criança não comia nada e achava que café tinha gosto de cheiro de suor. Justo eu, começava a brincar de sentir gostos e cheiros numa xícara de café.

No último ano de faculdade eu precisava de um trabalho flexível e andava querendo uma experiência diferente. Um amigo ia abrir uma cafeteria, então fui pedir um emprego de garçonete. A equipe toda fez um treinamento de barista e eu achei tudo aquilo deslumbrante. Comecei a estudar, treinar e quando a cafeteria abriu, fui designada barista da casa e me levaram para competir no campeonato mineiro de baristas. Eu me lembro do que eu disse para um barista com quem eu aprendi muito sobre barismo e sobre paixão: “pela primeira vez na vida eu acho que quero fazer alguma coisa pra sempre”.



“Pra sempre” é muito tempo, mas eu decidi fazer do café a minha vida. O café já me significou muita coisa: já foi obrigação, acolhida, gentileza, consolo, calor, entusiasmo. Hoje, café para mim é encontro. Na xícara, um encontro com o outro, no compartilhar mesa, conversa e experiência. No shotglass, um encontro comigo mesma: na rara combinação diária de paz de escolha acertada e fascínio em cada nuance.

(texto publicado na Coluna Café da Revista Minas Gourmet, em janeiro de 2011)

5 comentários:

  1. MUITO BOM HELGA.
    bOA ESTRÉIA NA MINAS GOURMET.

    TO COM MUITOS TOPICOS NA CABEÇA

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  2. Amei este texto Helga!! Poético e realista ao mesmo tempo! Sua cara, consigo te ouvir falando!! Me emocionei... acho lindo quando alguém encontra um caminho na vida, e que caminho especial!! Estamos juntas nessa!!

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  3. Carmen de Divinolândia17 de novembro de 2011 às 13:41

    Você consegue passar paixão através de seus textos, também estou me aproximando muito do café, e o vendo de uma forma totalmente diferente. Que incrível!

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goles de café

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